sábado, 4 de abril de 2009

Zana Muhsen, "Vendidas"



Este livro fala de duas adolescentes, filhas de pai Iemenita e mãe britânica, que viviam em solo britânico. Estas raparigas foram levadas para o Ièmen pelo pai, com a desculpa de irem passar umas férias à terra natal do seu progenitor. Cheias de ilusões e expectativas por irem conhecer um país tão diferente e em relação ao qual imaginavam praias lindas, vistas maravilhosas, acabaram por, na realidade, conhecer o horror e a infelicidade.
Zana partiu sem a sua irmã ficando combinado encontrarem-se duas semanas após a partida desta para o Iémen. Quando Zana chegou a este país, descobriu que ela e a sua irmã tinham sido vendidas e acabariam casadas com dois adolescentes. Zana, a irmã mais velha, fez de tudo para impedir que Nádia iniciasse a sua dita viagem de sonhos! Todos os sacrifícios que enfrentou para impedir a ida da sua irmã para o Iémen foram em vão! Duas semanas depois, as duas irmãs encontravam-se juntas a lutar por um direito comum, "a liberdade". A partir deste instante, começou a vida de tormentos, humilhações e choque para as duas mulheres casadas, que não eram mais do que duas crianças. O choque cultural veio amplificar o tormento - numa idade em que deviam ter tido os primeiros namoricos, as primeiras descobertas e vivências naturais da sua idade foram violadas, espancadas e maltratadas durante anos.
Não podiam confiar em ninguém senão nelas próprias, não conheciam a cultura e estavam sempre a ser enxovalhadas. Se antes tomavam banho de água quente, agora tinham de carregar a água gelada para toda a família por caminhos ruins. Passaram a viver em casas feitas de excrementos de animais, as janelas eram minúsculas e tinham de dormir no chão. Tiveram filhos quando ainda eram crianças. Nádia, sendo a mais nova, começou a deixar-se envolver pelos costumes e lentamente começa a ter um relacionamento “normal” com o marido. Após oito anos de muita luta, Zana conseguiu a sua libertação. Mas para isso teve de deixar para trás a sua irmã, os sobrinhos e o filho. Zana e a mãe juraram a si próprias fazê-los sair do Iémen. Neste livro, ela descreve a sua história e o combate que travado em prol da libertação da irmã.
Ao ler “Vendidas” fiquei especialmente chocada. A sensação de que tudo o que lemos aconteceu realmente é demasiado pavoroso para mim. Zana é, sem dúvida, uma mulher de coragem assim como a sua irmã. A leitura deste livro trouxe-me um grande desconforto e tristeza, pois fez-me perceber que o mundo não é um conto de fadas, tal como muitos de nós o vemos, mas pelo contrário, a vida pode ser muito penosa para alguns. Desconhecia estes problemas e crimes contra a dignidade das mulheres, num país regido por leis e por uma religião totalmente retrógradas; é inadmissível que, no século XXI, ainda haja quem discrimine as mulheres, por considerá-las seres inferiores, incapazes de se orientarem por si e, por isso, precisarem da autoridade masculina.

Sónia Amaral
10º A Nº 21

2 comentários: