segunda-feira, 9 de março de 2009

Torey Hayden, "A Criança Que Não Queria Falar"


No início do ano, Torey recebeu oito crianças e dois ajudantes. Ficaram entregues a si próprios numa sala anexo da escola, que ficava isolado de todo o resto. Estas crianças eram aquelas que possuíam graves problemas e que nenhum professor ou pai queria junto das suas crianças, este era o único local em que poderiam ser encaixadas.
Após as férias do Natal, outra criança apareceu; esta iria permanecer lá até surgir uma vaga no hospital estatal para ser internada na ala da psiquiatria, pois, apenas com seis anos, levara um rapaz de três para o bosque, atara-o a uma árvore e pegara-lhe fogo. Chamava-se Sheila. Esta possuía um olhar sombrio, era violenta e agressiva. Quando chegou lá, não falava, não interagia, apenas permanecia sentada no canto da sala numa cadeira. O que não ajudou minimamente a sua integração, pelo contrário, ninguém gostara dela. Usava constantemente a mesma roupa, as eternas jardineiras e aquela t-shirt, que tantos horrores testemunharam.
Ao ler o dossier de Sheila, Torey constatou que não lhe fora diagnosticado qualquer atraso mental. Ela vivia com o pai, este era toxicodependente, alcoólico e maltratava-a; a sua mãe abandonara-a na estrada levando consigo o seu irmão mais novo, Jimmie. Os comportamentos de Sheila, muitas vezes, excediam o aceitável, mas a palavra “desistir” não pertencia ao vocabulário daquela professora. Estava disposta a lutar por ela, o que lhe exigiu muito trabalho, preocupação e dedicação.
A pouco e pouco, Sheila foi começando a falar, a integrar-se nas actividades e a aproximar-se mais de Torey, que teve a confirmação do seu elevado QI.
Na terceira semana de Março, a notícia mais devastadora, e no entanto mais esperada chegou: havia uma vaga no hospital e Sheila iria para lá. Torey lutou com todas as armas que tinha ao seu alcance para fazer de tudo a fim de que não levassem Sheila, pois achava que aquele não era o local indicado para ela.
Os maus tratos por que Sheila passou também foram de outra natureza, uma vez que, um dia, Torey descobrir que Sheila fora abusada sexualmente pelo tio Jerry. O que não só a traumatizou bastante como também lhe provocou danos físicos, que fizeram com que passasse uma temporada nos cuidados intensivos. Onde provou ser bastante corajosa e forte.
O fim do ano estava a chegar e com ele o fim das aulas. Torey já havia preparado a sua partida para a Universidade, onde ia acabar a sua especialização e fazer o doutoramento. Ela tinha tomado esta decisão, pois há uns tempos atrás tinham-lhe comunicado que aquelas turmas especiais iriam acabar. Como tal, também já começava a pensar e a planear o futuro das suas crianças. Apenas continuava com dúvidas em relação a Sheila, mas achava que o melhor para ela era ingressar pela escolaridade normal e integrar-se numa classe mais avançada. Por conseguinte, um dia foi visitar a classe de Sandy McGuire na escola de Jefferson, onde iria ficar no próximo ano. Sheila simpatizou com esta velha amiga da sua professora, e ambas gostaram uma da outra.
No último dia de aulas Sheila estava mais feliz e radiante que nunca; mas a hora mais difícil do dia estava prestes a chegar, a da despedida. Despediu-se compulsivamente de Anton e Witney entre beijos, abraços e palavras de adeus. Torey foi levá-la ao autocarro, aí tiveram uma despedida comovente, um abraço caloroso salpicado com algumas gotas que teimavam em escorrer e, por fim, o último olhar.
Todavia, a história destas duas personagens não ficou por aqui… Um dia, Torey recebeu pelo correio uma folha de papel, um pouco amarrotada, escrita com caneta de feltro azul; que pendurou na parede do seu escritório. O sol já lhe levou um pouco da tinta, mas ainda é perceptível o poema que Sheila lhe escreveu.
Na minha opinião, este livro retrata uma história dolorosamente encantadora. O leitor apercebe-se aqui de como a simples pureza do ser humano consegue chegar ao íntimo de um lugar praticamente impenetrável, e retirar do seu esconderijo a resposta ao porquê viver. Recomendo este livro, pois é de fácil leitura e transporta consigo uma história encantadora; e mostra-nos claramente que o mundo onde habitamos não é de todo justo; nele existem pessoas, neste caso, crianças, que jamais deveriam sofrer sequer uma ínfima parte daquilo que sofrem. Esta obra também nos intriga pela inusitada postura desta criança de seis anos, que chegou ao extremo de queimar outra, de cometer as maiores barbaridades, mas que também é capaz de ser prestável para outra e mudar completamente o seu comportamento. Este mistério mostra-nos o quão complexa a mente humana é e quantos enigmas e segredos reserva para si mesma.



Maria Inês Lobo Almeida
10º B Nº 14

domingo, 1 de março de 2009

Susanna Tamaro, “Vai aonde te leva o Coração”


Ao terminar a leitura desta obra da italiana Susanna Tamaro, sente-se vontade de a reler, sentimento antagónico ao desejo de chegar ao fim enquanto se lê, pois, com uma narrativa tão simples, clara, realista e sentimental, não é possível reflectir o bastante sobre as constantes expressões que vão surgindo ao longo da obra, carregadas de sentidos conotativos.
“Vai Aonde Te Leva o Coração” é um romance cheio de detalhes, de pormenores e sensibilidade, onde as comparações, as interrogações e as perífrases são recursos frequentemente utilizados, em frases curtas, intensas, descrições do mundo real e mundano, referências místicas ou científicas e reveladoras de emoções e sentimentos.
Esta narração da relação entre avó e neta, na segunda metade do século XX, é uma verdadeira história de amor familiar entre gerações, a história de uma família conservadora e de conflitos geradores de pouca comunicação.
É um livro que fala de sentimentos sem sentimentalismos, que reavalia condutas, promove a descoberta de vidas que, embora ligadas por laços de sangue, não se conhecem umas às outras.
Neste bestseller, mundialmente lido, a escritora, com o título, resume o que pretende transmitir nas 15 cartas e dá o conselho, a um destinatário universal, de que se deve sempre ouvir o coração para que se atinja a felicidade, pois a vida não é imutável.


Mariana Amaral
10.º B N.º 16