domingo, 19 de abril de 2009

Torey Hayden, "A Menina Que Nunca Chorava”


Torey Hayden, a brilhante professora e psicóloga que logo me cativou no seu livro A Criança Que Não Queria Falar”, continua neste livro a história verídica e contagiante de Sheila, a pequena criança que viu, pela primeira vez, o amor pelas suas mãos. Penso que só faz sentido ler este livro, depois de ler A Criança Que Não Queria Falar, porque aí está o início de tudo: o pequeno artigo de jornal que relatava o acontecimento horrível de uma menina de seis anos que prendera um menino mais novo a uma árvore no bosque e lhe ateara fogo; Sheila enviada para a turma especial de Torey enquanto não havia vagas no hospital psiquiátrico; o amor que Torey lhe deu a conhecer e que marcou profundamente aquela menina, fruto de um passado tão infeliz; o momento em que todos se separaram e seguiram as suas vidas. Cinco meses juntas, Sheila e Torey mudaram a vida uma da outra e marcaram-se mutuamente.
Torey encontrava-se a cerca de mil e seiscentos quilómetros daquela que fora a sua vida de professora na escola em Marysville. A sua vida tinha dado uma grande volta; já não estava com Chad, mas mantinha com este uma boa relação de amizade; frequentava agora a faculdade e dedicava o seu tempo livre à investigação de problemas psicológicos associados à linguagem (tema esse derivado do contacto que teve com Sheila).
Três anos depois, Torey regressou para visitar os seus amigos e, numa conversa com Chad, descobriu que o pai de Sheila havia sido preso e que a pequena se encontrava para adopção. Destroçada, Torey escreveu-lhe e enviou-lhe fotografias, mas não obteve resposta. Apenas dois anos mais tarde, recebeu um poema de Sheila endereçado para a Universidade onde ensinava.
Seis meses após ter escrito o livro A Criança Que Não Queria Falar, Torey encontrou lugar na Sandry Clinic como psicóloga investigadora. Aí partilhava o gabinete com Jeff Tomlinson que já era médico e estava no último ano do seu estágio como psicólogo infantil.
Faltavam três meses para Sheila completar catorze anos, quando Torey finalmente a localizou. Já não a via há sete anos, tinha então passado mais de metade da sua vida. Sheila vivia com o pai num pequeno duplex numa zona degradada, mas em melhores condições do que a barraca no campo de imigrantes. Torey foi recebida pelo senhor Renstad, pai de Sheila, que se encontrava bastante diferente. Sheila, a pequena Sheila, também havia mudado drasticamente: era agora uma rapariga magra e alta; os cabelos loiros e lisos tinham sido substituídos por uns caracóis artificiais pintados de um laranja bastante forte; quanto às suas roupas, Sheila possuía uma indumentária muito invulgar - uma enorme T-shirt branca com um blusão de ganga coçado com as mangas arregaçadas e umas calças de ganga cortadas, a moda da altura. Juntas de novo, contaram o que se havia passado nos últimos anos, ora sobre a escola, ora sobre o rumo das suas vidas. Torey deu a conhecer a Sheila o livro que escrevera e esta começou a lê-lo. Não se lembrava de quase nada; não se lembrava das crianças com quem convivera, não se lembrava de Anton nem de Whitney. Torey sentiu-se triste, desiludida, revoltada com o facto de Sheila ter esquecido todos aqueles momentos que a tinham marcado tanto...
Tinha chegado o Verão, e com ele o programa de Verão da Clínica de Torey; oito semanas, durante os meses de Junho e Julho, em que o objectivo era trabalhar com oito crianças portadoras de problemas mentais graves num programa escolar. Para estas crianças havia Torey, Jeff e Miriam, uma mulher mais velha, enérgica e determinada; no entanto, eles precisavam não de cabeças, mas sim de mãos e foi aí que Torey se lembrou de Sheila, ela era a pessoa indicada para os ajudar naquele programa.
À medida que o tempo passava, Sheila e Torey voltavam a conhecer-se: Torey não conseguia ver a menina pequena que tinha ido parar às suas mãos naquela sala de aula e Sheila, que se ia lembrando das pessoas e dos momentos que passara com Torey, não via também a professora meiga e carinhosa que a acolhera e lhe mostrara a felicidade. Várias vezes discutiram.
E foi perto do fim do Programa de Verão que Torey e Sheila se viram pela última vez naquele ano. Torey deixou de ter notícias de Sheila, esta tinha desaparecido com o pai. Torey sentiu todo o tipo de emoções naquela semana: choque, raiva, desalento, lamento, tristeza; aqueles três meses com Sheila tinham servido para reconstituir a relação que tinham e agora tinha-a perdido outra vez.
Passou-se, então, o Verão, o Outono, o Inverno e com ele um novo ano, novas crianças, novas relações e o trabalho de Torey que prosseguia. E foi ao regressar de férias, após um mês longe de casa, que Torey encontrou uma carta de Sheila, uma carta de suicídio. Perante isto Torey não teve forças para fazer absolutamente nada. Mas Sheila não estava morta, pois um ano mais tarde, ao chegar a casa, Torey encontrou um espesso envelope com cartas desta. No entanto, o caminho para uma vida mais estável e feliz ainda era longo e difícil, devido aos obstáculos por que Sheila teria de passar. Porém, a menina conseguiu atingir o seu destino, visto que dez anos depois, Sheila, dona de uma mentalidade empresarial inesperadamente astuta, é gerente da sua filial de fast-food e espera-se que seja uma das mais jovens concessionárias na sua região do país. Tem a sua própria personalidade e sente-se confortável com a pessoa em que se tornou. Evoluiu para uma jovem notavelmente estável e competente.
Para mim, esta história foi absolutamente contagiante e emocionante, principalmente pelo facto de ser verídica; é do tipo de histórias que mexe com as pessoas, com os seus próprios sentimentos. É a história de uma infância repleta das piores maldades que existem: violência, tristeza, solidão. É a história de uma menina que não sorria até ao momento em que chegou àquela sala de aula, até ao momento em que conheceu aquela professora, que não a chamou de maluca nem pôs de lado, mas lhe deu a conhecer a felicidade.


Cláudia Costa
Nº4 10ºB






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